ESTUDO >> INTRODUÇÃO À CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS
INTRODUÇÃO
A cidade de Corinto. Corinto era um rico centro comercial, situado sobre o estreito istmo que liga o território da Grécia propriamente dita com o Peloponeso. Sua história pode ser convenientemente dividida em duas partes. A cidade, que de acordo com a lenda, era o lugar onde a Argo de Jasom foi construída, sendo destruída por Lúcio Múmio Acaico, o cônsul romano, em 146 a.C. Foi o fim do primeiro capítulo de sua história.
Era inevitável, entretanto, que uma cidade tão favoravelmente localizada fosse ressuscitada.
Por isso, em 46 a.C., a nova cidade foi construída por Júlio César, recebendo o "status" de colônia romana. Rapidamente readquiriu sua importância comercial e, em aditamento, tornou-se, sob diversos aspectos, a principal cidade da Grécia. A importância da cidade deve ter influenciado o apóstolo Paulo em seus esforços missionários.
Sendo o ponto central do comércio norte-sul e leste-oeste e contendo uma população de caráter misto – romanos, gregos e orientais – Corinto era um centro estratégico. Na verdade, era chamada "o Império em miniatura"; – "o Império reduzido a um só Estado" (ICC, pág, xiii). Uma mensagem proclamada e ouvida em Corinto encontraria o seu caminho às mais distantes regiões do mundo habitado.
Não foi por menos, então, que Paulo fosse "constrangido pela Palavra" (Atos 18:5) a testificar em Corinto. Com a pressão interna feita pelo Senhor e pela Palavra, poderia também haver uma pressão externa – a porta aberta na Corinto cosmopolita. E finalmente, o caráter moral de Corinto era solo fértil para as gloriosas boas novas do Messias.
A velha cidade possuía o formoso Templo de Afrodite, onde mil prostitutas sagradas estavam à disposição dos seus devotos. O mesmo espírito, se não o mesmo templo, prevalecia na nova cidade.
O provérbio, de significado sexual, "nem todos podem visitar Corinto", era voz corrente (cons. MNT, pág, xviii). A palavra grega Korinthiazomai, que literalmente significa, agir como um coríntio, passou a significar "fornicar" (cons. LSJ, pág. 981). "Todo grego" escreveu Moffat, "sabia o que significava a expressão - moça coríntia" (MNT, loc. cit.).
O popular comentador escocês, William Barclay disse: "Aelian, o falecido escritor grego, conta-nos que sempre que um coríntio aparecia no palco, em uma peça grega, aparecia bêbado" (William Barclay, The Letters to the Corinthians, pág. 3).
Não é necessário multiplicar referências e ilustrações. Corinto era conhecida por tudo o que fosse depravação, dissolução e devassidão. Foi providencial que Paulo se encontrasse em Corinto quando escreveu a Epístola aos Romanos. De nenhuma outra cidade ele teria recebido tal incentivo, para escrever sobre o pecado do homem, e em nenhuma outra cidade ele teria a oportunidade de ver melhor exemplo dele.
Contemplando as pessoas enquanto esteve hospedado em casa de Gaio, ele teve ocasião de catalogar os pecados humanos apresentados em Romanos 1:18-32. Com tal cenário por fundo, surgiu a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, a epístola da santificação.
É como se hoje em dia alguém enviasse uma carta sobre santidade para um grupo de crentes em Paris ou Singapura.
Origem da Igreja. A história da organização da igreja em Corinto foi narrada por Lucas, em Atos 18:1-17. Paulo chegou à cidade em sua segunda viagem missionária, em 50 A.D., e logo foi o primeiro a pregar ali o evangelho. Enquanto morava e trabalhava com Áqüila e Priscila, começou o seu ministério na sinagoga, um ministério que se estendeu por dezoito meses. Um notável aspecto do método de pregação do apóstolo encontramos no texto ocidental de Atos 18:4, "E entrando na sinagoga todos os sábados ele discursava, intercalando o nome do Senhor Jesus, e tentava persuadir não apenas os judeus mas também os gregos". Intercalando o nome do Senhor Jesus deve se referir à aplicação das Escrituras do Velho Testamento a Cristo.
Em outras palavras, ele pregava Jesus de Nazaré como cumprimento da profecia messiânica. Ele, portanto, seguia a metodologia do próprio Senhor, o qual, na Estrada de Emaús, com os dois discípulos, começou em Moisés e todos os profetas e lhes expôs todas as Escrituras, que lhe diziam respeito (cons. Lc. 24:27).
A reação diante da pregação de Paulo foi diferente da reação diante do ensino de Jesus. Na maioria das vezes, os corações dos ouvintes de Paulo não queimavam com interesse pela verdade; queimavam com a oposição à verdade. E Paulo foi obrigado a partir (Atos 18:6).
Mudando-se para a casa de Tito Justo (possivelmente o Gaio de I Co. 1:14 e Rm. 16:23; William Ramsay, Structures of the Apostolic Church, pág. 205), Paulo continuou pregando "em fraqueza, temor, e grande tremor" (I Co. 2:3). E quem não temeria naquelas circunstâncias? O lugar de reuniões da pequena assembléia ficava ao lado da sinagoga! O Senhor, entretanto, apareceu a Paulo em uma visão e o encorajou com a promessa que Ele tinha "muito povo" em Corinto (cons. Atos 18:9, 10).
Esta promessa deve ter constituído um grande conforto para o apóstolo nos anos subseqüentes, quando a frouxidão moral dos crentes devia ter-lhe dado motivos de duvidar da genuinidade do trabalho ali. Depois de concluir seu ministério em Corinto, Paulo retornou a Jerusalém e Antioquia.
Autoria da Carta. As evidências externas e internas da autoria paulina da carta são tão fortes, que realmente torna-se desnecessário dar ao assunto mais do que uma atenção superficial. Clemente de Roma, que escreveu em 95 A.D, mais ou menos, refere-se à epístola dizendo-a do "bendito Paulo, o apóstolo". Esta é a mais antiga citação de um escritor do Novo Testamento, identificado pelo nome (ICC, pág. xvii).
Inácio, Policarpo e outros fornecem abundantes evidências externas adicionais. As evidências internas – de estilo, vocabulário e conteúdo – harmonizam-se com o que sabemos de ambos, Paulo e Corinto. Este é um genuíno produto do apóstolo Paulo.
Lugar onde foi escrita. Paulo escreveu a carta em Éfeso (cons. I Co. 16:8), não de Filipos.
Data quando foi escrita. A data não pode ser fixada com certeza absoluta, mas parece provável que a epístola foi escrita durante a última parte, da prolongada permanência de Paulo em Éfeso (cons. Atos 19:1 - 20:1). Isto seria em cerca de 55 A.D. Ocasião quando foi escrita. Antes de dar uma idéia da ocasião em que foi escrita a carta, seria sábio fazer um esboço da ordem dos contatos e correspondência que Paulo manteve com a assembléia de Corinto. Embora quase todos os pontos do esboço sejam discutíveis, a defesa não está dentro do propósito desta breve introdução.
1. O primeiro contato de Paulo com eles foi o acima mencionado, a visita na qual as boas novas foram pela primeira vez pregadas aos coríntios. De acordo com 2:1, 3:2 e 11:2, parece que esta foi a única visita antes da composição da canônica I Coríntios.
2. Depois dessa visita inicial, Paulo escreveu uma carta à igreja, a qual se perdeu (cons. 5:9).
3. Quando notícias perturbadoras chegaram sobre os crentes e uma carta pedia informações, Paulo escreveu I Coríntios.
4. Ao que parece, os problemas na igreja não foram resolvidos pela epístola, pois o apóstolo viu-se forçado a fazer à igreja uma visita apressada e difícil (cons. lI Co. 2:1; 12:14; 13:1, 2).
5. Seguindo essa visita penosa, o apóstolo escreveu à igreja uma terceira carta de caráter muito severo, à qual ele se refere em II Cor. 2:4.
6. A ansiedade do apóstolo por causa da igreja era tão grande, que não quis ficar esperando por Tito em Trôade, o portador da carta severa, mas dirigiu-se apressadamente à Macedônia. Ali encontrou-se com Tito e ficou sabendo que a carta produzira resultados; tudo ia bem em Corinto. Da Macedônia Paulo escreveu a canônica II Coríntios (cons. II Co. 2:13; 7:6-16).
7. Ele, então, seguiu sua última carta com sua última visita à igreja, da qual temos evidência (cons. Atos 20:1-4).
A ocasião em que foi escrita I Coríntios pode ser descoberta por diversas indicações. Em primeira lugar, o apóstolo recebera de duas fontes, notícias de divisões dentro da igreja (cons. I Co. 1:11; 16:17). O mais sério dos elementos alienígenas pode ter sido os judaizantes (cons. 1:12; 9:1). Em segundo lugar, vindos da igreja de Corinto, chegaram a Éfeso, Estéfanas, Fortunato e Acaico (cons. 16:17). O trio trouxe uma carta dos crentes na qual havia uma série de perguntas para Paulo responder. As perguntas podem ser encontradas na frase-chave freqüente, "quanto às cousas" (peri de; veja 7:1, 25; 8:1; 12:1; 16:1, 12). Em terceiro lugar, certos assuntos parecem ser simplesmente "o resultado espontâneo dos pensamentos preocupados do apóstolo por causa da Igreja de Corinto" (ICC. pág, xxi).
Principais Características da Carta. Talvez o aspecto principal desta epístola seja a ênfase dada à vida da igreja local. A ordem e os problemas da igreja primitiva estão diante do leitor. Se Romanos pode ser chamada de carta teológica, I Coríntios é certamente uma obra prática. Se em Romanos Paulo parece um professor moderno de Teologia Bíblica, em I Coríntios ele parece um pastor-professor, enfrentando o cuidado com a igreja na linha de frente da guerra cristã. Por outro lado, a carta não é totalmente prática na sua ênfase. O mais importante capítulo do Novo Testamento, que fala da ressurreição de Jesus Cristo, é provavelmente I Coríntios 15, e certamente a mais importante seção do Novo Testamento, sobre os dons espirituais, encontra-se em I Coríntios 12, 13,14. E, é claro, esta grande carta tem sido conhecida principalmente pelo seu grande lirismo sobre o amor, no capítulo 13. Aí se vê até que altura pode um homem subir na obra espiritual, quando despertado pelo Espírito Santo de Deus. A genialidade do homem Paulo irrompe aqui com efeito indescritível. Finalmente, é interessante mencionar que esta é a mais longa epístola de Paulo.
Plano da Carta. A argumentação paulina é simples e clara, assunto seguindo assunto, ordenadamente, com as divisões claramente demarcadas. O esboço abaixo é utilizado na exposição.
ESBOÇO
I. Introdução. 1:1-9.
A. Saudação. 1:1-3 .
B. Ação de Graças. 1:4-9.
II. As divisões na igreja. 1:10 - 4:21.
A. O fato das divisões. 1:10-17.
B. As causas das divisões. 1 : 18 - 4 : 5.
1. Causa 1: Má interpretação da mensagem. 1:18 - 3:4.
2. Causa 2: Má interpretação do ministério. 3:5 - 4:5.
C. Aplicação e conclusão. 4:6-21.
III. As desordens na igreja. 5:1 - 6:20.
A. Ausência de disciplina. 5:1-13.
B. Os litígios diante dos pagãos. 6:1-11.
C. A frouxidão moral da igreja. 6:12-20.
IV. As dificuldades na igreja. 7:1 - 15:58.
A. Conselho relativo ao casamento. 7:1-40.
l . Prólogo. 7:1-7.
2. Os problemas do casamento. 7:8-38.
3. O "postscript". 7:39, 40.
B. Conselho relativo às coisas sacrificadas aos ídolos. 8:1 - 11:1.
1. Os princípios. 8:1-13.
2. A ilustração dos princípios. 9:1-27.
3. Advertência e aplicação aos coríntios. 10:1 - 11:1.
C. Conselho referente ao véu usado pelas mulheres nos cultos públicos.
l. Razão teológica. 11:2-6.
2. Razões bíblicas. 11:7-12.
3. Razões físicas. 11:13-16.
D. Conselho referente à Ceia do Senhor. 11:17-34.
1. A indignação de Paulo. 11:17-22.
2. Revisão de instruções passadas. 11:23-26.
3. Aplicação aos coríntios. 11:27-34.
E. Conselho referente aos dons espirituais. 12:1 - 14:40.
1. A validade do pronunciamento. 12:1-3.
2. A unidade dos dons. 12:4-1 1.
3. A diversidade dos dons. 12:12-31a.
4. A primazia do amor sobre os dons. 12:31b - 13:13.
5 . A superioridade da profecia, e o culto público da igreja. 14:1-36.
6. Conclusão. 14:3-40.
F. Conselho relativo à doutrina da ressurreição. 15:1-58.
1. A certeza da ressurreição. 15:1-34.
2. A consideração de certas objeções. 15:35-5 7.
3 . Apelo final. 15:58.
V. Conclusão: Assuntos práticos e pessoais. 16:1-24.
A. A coleta para os pobres. 16:1-4.
B. A planejada visita de Paulo. 16:5-9.
C. Recomendações, exortações, saudações e bênção apostólica, 16:10-24.
Fonte: comentário bíblico Moody
https://www.batistas-mg.org.br/wp-content/uploads/2014/05/1Cor%C3%ADntios-Moody.pdf
Fonte das Ilustrações:
https://apaixonadopormissoes.blogspot.com.br/2014/08/2-epistola-aos-corintios.html