ENTREVISTA >> CURA E LIBERTAÇÃO NA IGREJA (William Lau)

18/06/2020 16:45

 

Muitos são os textos bíblicos que falam de cura de enfermos e de libertação, outros tantos nos lembram da ordem do Mestre: "Curem enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, deem também de graça" (Mateus 10.8).

Mas se Cristo nos comissionou, nós dá autoridade sobre o poder do inimigo e ordem para curar (Lucas 10.9), por que não vemos tantas maravilhas em nossas Igrejas? O que falta para que isso aconteça em nossos dias? Muitas vezes a falta de ousadia se esconde atrás da prudência, ou pelo menos é este o argumento que usamos para justificar o medo do fracasso.

O Instituto Jetro entrevistou o chinês e americano Pr. William Lau, fundador e diretor The Elijah Challenge -"O Desafio de Elias" - um ministério que ensina os crentes comuns para curar os enfermos com o objetivo de compartilhar o Evangelho. É autor do livro: "Jesus ensina curar os enfermos". Pr. Lau esteve em Londrina à convite da Primeira Igreja Presbiteriana Independente para ministrar o Seminário sobre Cura e Libertação e trouxe uma exposição explicativa dos textos bíblicos que falam de cura de enfermos e de libertação e o que tem sido a sua própria experiência em curar enfermos e expulsar demônios.

 

Em sua opinião, pela sua experiência, há um processo de cura, provavelmente natural, maior nas igrejas Pentecostais e Neopentecostais do que em igrejas Tradicionais? Por que isso acontece?


WilliamBem, primeiramente, nas igrejas pentecostais e neopentecostais, existe uma ênfase no Espírito Santo. Quando o Espírito Santo veio, trouxe os dons sobrenaturais, que inclui o dom de cura, de milagres, o dom da fé, juntamente com outros seis tipos de dons espirituais.

As igrejas tradicionais não falavam muito sobre o Espírito Santo, portanto em sua tradição não tiveram a prática destes dons e não viram muitos milagres. No entanto, entre o povo de Deus existem muitos doentes que necessitam de cura. Além disso, sabemos que a Grande Comissão foi cumprida em obediência às ordens do Senhor, e sabemos também que, sem Poder, o cumprimento da Grande Comissão se dificulta, não somente para Católicos, mas também para os Muçulmanos, Budistas e Hindus, e outros povos não-cristãos.

Quando os pentecostais e neopentecostais, por assim dizer, descobriram o Espírito Santo, eles se sentiram empolgados, viram milagres, os que criam eram curados e pessoas eram salvas por causa destes milagres, portanto ficavam empolgados com o que Deus estava fazendo. Porém, muitas vezes, em sua empolgação, se esqueciam da Palavra de Deus, das Escrituras, e empregavam práticas e, por vezes, até mesmo crenças que não eram bíblicas em sua totalidade.

Quando as igrejas tradicionais viam isso acontecer, elas se alarmavam porque sentiam que os pentecostais estavam indo além da Palavra e além das Escrituras. Além disso, havia manifestações sobrenaturais que não eram encontradas nas Escrituras. Certamente, curas miraculosas são reveladas nas Escrituras, mas algumas outras não e os métodos usados enquanto praticavam a cura também não eram encontrados nas Escrituras. Por isso, as igrejas tradicionais eram hesitantes e apreensivas em seguir os passos de seus irmãos pentecostais. Por isso, penso que isto tenha a ver com a questão do querer ser realmente fiel à Palavra de Deus e querer somente aquilo que a Bíblia ensina. Penso também que é possível, nos dias de hoje, termos ambos. Podemos ter o dom da cura, sinais e maravilhas, e ao mesmo tempo permanecermos fiéis à Bíblia. É possível que não precisemos escolher entre um ou outro, mas termos ambos. Podemos permanecer fiéis às Escrituras e ver milagres, curas para os que crêem, bem como sinais sobrenaturais para os que estão perdidos, para os que não crêem.

 

Jesus nos chamou a curar e não a orar pelos enfermos, mas somos habituados a somente orar por eles. Por quê?

 

William: Bem, eu realmente não conheço o histórico disto. Mas, a meu ver, isto tem a ver com a tendência natural do ser humano de se sentir amedrontado e sentir medo do que as pessoas pensam. Sim, é claro que no Evangelho Jesus nunca disse a seus discípulos para orar pelos doentes. Ele sempre disse para curar os doentes. Muitos crentes sabem disso, mas quando tentaram curar os enfermos realmente, como Jesus ordenou, eles se encontraram fracassados no cumprimento da cura, e quando você falha, certamente se sente mal e pode se sentir envergonhado se outras pessoas estão presentes. Por isso, quando se cura um enfermo, como Jesus ordenou, existe sempre um elemento de risco envolvido e não há garantias de que a pessoa irá ser curada. Nós, seres humanos, não gostamos de arriscar, especialmente quando o risco envolve vergonha e a possibilidade de nos deixar com uma imagem ruim aos olhos das pessoas. É muito fácil racionalizarmos isto e dizer ‘bem, somente Deus pode curar. Quem somos nós para achar que podemos curar enfermos? Somos só pecadores salvos pela Graça e somente Deus pode realizar curas', e além disso, queremos nos humilhar e glorificar a Deus, portanto é Ele quem realiza a cura. E quando Ele realiza o milagre, nós damos glórias a Ele e permanecemos humildes. É muito fácil espiritualizar este medo que temos dentro de nós, e o resultado é que nós acabamos por somente orar pelos  doentes ao invés de curá-los como Jesus nos ordenou.

Penso também que Satanás teve sucesso ao fechar os olhos da igreja para aquilo que Jesus nos ordena. E acho também que Satanás foi bem sucedido ao vendar os olhos da Igreja para os ensinamentos de Jesus no Novo Testamento. Quando lemos estes versos que falam sobre os discípulos curando enfermos, nós vestimos óculos especiais que nos fazem ler ‘eles oraram pelos doentes' ao invés de ‘eles curaram os doentes'. Ou, se vemos nas Escrituras o que diz, por exemplo, ‘eles saíram e pregaram o Evangelho e curaram os enfermos em toda parte', nós pensamos ‘ah, isso foi somente para os discípulos há dois mil anos. Isso não é pra nós hoje'. Temos muitas maneiras de negar as Escrituras. Mas acredito que isto se relaciona com nossa falha ao obedecer a ordem de Jesus para curarmos enfermos e os resultados desse insucesso são geralmente a vergonha e o desconforto.

O inimigo usa nossos medos, nossas dúvidas, para nos impedir de curar os enfermos e, ao invés, orar por eles. Sabemos que no livro de Tiago, capítulo 5, Tiago nos ensina a orar sobre os enfermos. Agora, as igrejas sempre interpretaram ‘orar sobre os enfermos' como ‘orar pelos enfermos'.

 

E sobre o Ofício Profético?

 

William: O Ofício Profético é bastante diferente do Ofício Sacerdotal. No Ofício Profético nós profetizamos uns para os outros no corpo de Cristo. O propósito da profecia é basicamente instruir, edificar, fortalecer e encorajar. No Ofício Profético nós ministramos a Palavra de Deus uns pra os outros, são palavras inspiradas pelo Espírito Santo ou pelas Escrituras. Nós proferimos palavras proféticas uns para os outros para fortalecermos uns aos outros no corpo de Cristo. Portanto, a direção do Ofício Profético é horizontal. Nós estamos ministrando uns aos outros no corpo de Cristo.

 

E o Ofício Real?

 

William: O Ofício Real é o terceiro Ofício e também o final, e que não é muito bem compreendido pela Igreja nesse tempo. Mas, já que estamos nos fim dos tempos, e o Senhor quer retornar e por isso nós precisamos cumprir a Grande Comissão, acredito que Deus está restaurando o entendimento da Igreja sobre o Ofício Real.

O Ofício Real é muito abrangente, mas o que nós enfatizamos neste Ministério que o Senhor nos confiou é um aspecto limitado do Ofício Real, e esse aspecto limitado é para ser usado no cumprimento da Grande Comissão. É para ser usado ao curar enfermos, ao expulsar demônios e para demonstrar aos perdidos que o nosso Deus é o único e verdadeiro Deus e que as pessoas precisam retornar a Cristo. Neste terceiro Ofício, nós declaramos guerra ao inimigo e nós destruímos as obras do inimigo para que pessoas possam ser libertas da escuridão e da cegueira espiritual e aceitem o Senhor. Neste Ofício, principalmente, nós exercitamos autoridade sobre doenças e demônios, os quais Deus colocou sob nossa autoridade por causa do Evangelho.

 

E a nossa carne? Ela está sob nossa autoridade?

 

William: Bem, antes que viéssemos a conhecer Jesus Cristo como Senhor e Salvador, éramos escravos do pecado e estávamos sob autoridade do pecado. Não podíamos deixar de pecar porque o pecado reinava sobre nós. Mas depois que aceitamos Jesus Cristo como Senhor e Salvador, matamos nossa antiga natureza pecaminosa, na cruz, o que significa que o pecado não tem mais autoridade sobre nós, mas agora se encontra sob nossa autoridade em Jesus Cristo.

Através do Poder do Espírito Santo que vive em nós, mortificamos as obras da carne, e por "mortificar" quero dizer que nós não precisamos mais nos render à carne, mas podemos dominá-la, podemos fazê-la submeter-se a nós, podemos dizer não a impiedade e a paixões mundanas. Podemos viver uma vida santa quando aprendemos a utilizar a autoridade que temos sobre nossa carne. A natureza carnal está sob nossa autoridade e por isso não precisamos mais que pecar. Cabe a nós compreender essa verdade e utilizar o Poder do Espírito santo presente em nós para mortificar as obras da carne e colocá-la sob nossa autoridade, a fim de que não nos submetamos a ela e pequemos contra Deus.

Certamente, se pecarmos e confessarmos ao Senhor de todo nosso coração e nos arrependermos, seremos perdoados. Entretanto, existem consequências para o pecado mesmo que sejamos perdoados. Por isso, melhor é que não pequemos do que pecarmos e sermos perdoados. Não precisamos pecar porque Deus nos concedeu essa Graça, que nos veio na forma de Poder do Espírito Santo pelo qual podemos viver uma vida santa.

 

Sua palavra e conselho final para os Pastores e Líderes Brasileiros?

 

William: Tenho vindo ao Brasil desde 2005 e o que tenho visto Deus fazer aqui é muito especial e não tenho visto o mesmo em nenhum outro lugar do mundo. Geralmente, quando venho para o Brasil encontro muitos cristãos brasileiros que estão ávidos por serem treinados para ministrar a vida de outras pessoas.

Normalmente, cristãos não se atraem muito ao tipo de treinamento que nós oferecemos. O tipo de treinamento que oferecemos é: como ministrar bênçãos e cura sobre outras pessoas, e, frequentemente, os cristãos não estão interessados neste tipo de treinamento, pois estão mais interessados em como receber as bênçãos de Deus, em como receber a cura sobrenatural de Deus, do que abençoar e ministrar a curar sobre próximo. Ministrar cura é algo muito ameaçador e desafiador e, talvez, algo grande demais para os cristãos. Mas aqui no Brasil, frequentemente vemos centenas de cristãos brasileiros que desejam vir e desejam ser treinados.

Acredito que isso acontece porque Deus quer usar os brasileiros de uma maneira especial nesses tempos para cumprir a Grande Comissão. Entendo que o Brasil é uma "Nação Enviadora", uma nação que mais envia missionários ao campo, do que recebe os que vêm de fora e creio que isso agrada muito a Deus. Esta é uma razão pela qual acredito que o Senhor tem restaurado a igreja brasileira de maneira que a igreja quer abençoar, e não somente receber bênçãos, mas ir para o campo e obedecer a Deus, pregar o Evangelho e cumprir a Grande Comissão.

Quero incentivar os pastores brasileiros a serem ousados e a encorajar seus rebanhos a obedecer a Deus e não somente receber de Deus, pois agora que foram salvos e Deus tem os abençoado, vão e sejam uma bênção, apóiem o trabalho missionário, sejam vocês mesmos missionários, aprendam a levar o Evangelho, aprendam como curar enfermos, saiam em viagens missionárias e obedeçam a Deus, pois quando obedecemos a Deus nisso, haverá uma recompensa nos céus, e não estou falando somente da salvação, mas de uma recompensa que está relacionada com as nossas obras e nossa obediência a Deus.

Então incentivo os líderes brasileiros a serem encorajados e ousados ao guiar seus liderados para fora e para o cumprimento da Grande Comissão, pois os campos estão brancos para a ceifa e Deus está procurando pelos ceifeiros!

Tradução de Estéfani Malaguti.



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Título da entrevista: Cura e libertação na Igreja

Autor: William Lau